Sem gritar nem chorar, pais e filhos judeus tiravam as
roupas reuniam-se em círculos familiares, beijavam-se e despediam-se uns dos
outros, esperando por um sinal de outros homens da SS que ficavam perto da vala
com chicotes nas mãos. Durante os 15 minutos que estive presente naquele
cenário, não ouvi nenhum pedido de clemência diante do pelotão de
fuzilamento... O que mais me abalou foi presenciar uma família de umas sete
pessoas, um homem e uma mulher de aproximadamente 50 anos, com duas filhas, de
20 e 24 anos, três meninos, de 10, 7 e um de apenas 1... A mãe segurava o bebê.
O casal se olhava com lágrimas nos olhos. Depois, o pai segurou as mãos do
menino de 10 anos e falou com ele ternamente; o menino lutava para conter as
lágrimas. Então ouvi uma série de tiros. Olhei para a vala e vi os corpos se
contorcendo ou imóveis em cima dos que morreram antes deles... (O Colecionador
de Lágrimas, Augusto Cury)
O primeiro parágrafo do Capítulo 1 do livro O Colecionador
de Lágrimas de Augusto Cury traz uma prévia do choque de realidade e reflexão
que o romance provoca no leitor que viaja pelas páginas. Apesar do trecho acima
estar inserido no contexto de um sonho que o personagem principal do livro
teve, um grifo abaixo diz que o trecho é um testemunho real de um observador
que relatou o extermínio judeu durante a Segunda Guerra Mundial.
Apesar do relato, o livro não tem como foco principal
transcender o sofrimento das vítimas do Holocausto, mas sim retratar os perigos
de uma mente doentia e psicótica como a mente do homem que cometeu o maior número
de crimes contra a humanidade: Adolf Hitler.
Para dissecar os detalhes de uma mente tão complexa e
perigosa como a de Hitler, Augusto Cury insere a análise dentro de um romance.
O professor de história Júlio Verne é o personagem que relata ao longo do livro
como o homem que adorava animais, adorava arte e música clássica e parecia ser
uma pessoa sensível, dominou e implantou uma psicopatia social no mundo todo e
cometeu tantas barbáries.
Após ter estranhos sonhos com o período da Segunda Guerra em
que presenciava o assassinato em massa de judeus e ver que ficava calado diante
das atrocidades, o professor Júlio Verne decide dar um tom mais realista às
suas aulas. O intuito era fazer com que os alunos além de conhecer os fatos
históricos, realmente refletissem sobre como Hitler conseguiu usar as
fragilidades da Alemanha pós Primeira Guerra Mundial para manipular a população
e cometer o maior crime que a humanidade já presenciou.
O livro traz diversos personagens que não citarei aqui para
não estender muito o texto. Apesar de ter um final um tanto quanto inesperado e
um pouco desconexo com o restante do romance, O Colecionador de Lágrimas cumpre
o que promete. Ou seja, consegue levar o leitor a profundas reflexões.
Em mim, as reflexões ultrapassaram os limites das páginas.
Ao iniciar o texto, percebi que necessitaria dividir as influências do livro em
dois posts. O livro é recomendado para que quiser entender melhor como uma
sociedade enfraquecida pode ser manipulada por um sociopata que, em um primeiro
momento, aparece como herói e depois subverte o sentido de justiça, paz e união
e provoca atrocidades indescritíveis que, como no caso do nazismo, deixam uma
marca de sangue na raça humana. Afinal, atualmente sabemos que não existe raça
ariana, como os nazistas procuravam, o que existe são etnias de uma mesma raça:
a raça humana.
Como esquecer que não apenas os alemães, mas nós, seres
humanos, permitimos que 30 milhões de humanos fossem exterminados, assassinados
cruelmente, expostos a condições subumanas? No próximo post publicarei algumas
informações que soube a partir do livro O Colecionador de Lágrimas e minhas
reflexões a respeito dos conhecimentos adquiridos. Veremos que é necessário
analisar, refletir, pensar criticamente em todos os fatores que criaram e criam
ditadores e quais as características histórico-sociais levam esses ditadores a
se tornarem monstros e cometem terríveis crimes contra sua própria espécie. Em
breve postarei aqui a continuação desta análise. Até daqui a pouco...
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